Aquelas galinhas poedeiras que normalmente têm acesso ao ar livre não podem mais vagar livremente ou sentir o sol em seus bicos, já que alguns fazendeiros americanos e europeus mantêm temporariamente os rebanhos confinados devido a surtos letais de gripe aviária, de acordo com produtores de ovos e representantes da indústria.
A mudança surpreendeu os compradores, que vêm gastando mais dinheiro na compra de ovos devido ao abate de lotes infectados. Os consumidores pagam mais por ovos especiais, imaginando que venham de galinhas que têm a liberdade de se aventurar fora dos galpões.
Os órgãos de vigilância dos EUA dizem que os varejistas e as empresas de ovos devem desenvolver um trabalho melhor, informando aos clientes que as galinhas são mantidas confinadas – por ora o meio mais recomendável para os produtores, pois – de acordo com funcionários do governo – um único caso de gripe aviária resulta no abate de lotes inteiros. O vírus também pode infectar humanos, embora especialistas digam que o risco é baixo.
Na França, onde desde novembro o governo exige que os avicultores mantenham as aves confinadas, alguns varejistas continuam desafiando a obrigação de divulgar informações claras aos consumidores sobre o mandato, de acordo com pesquisas em supermercados feitas pela Reuters.
“Eu não sabia que eles tinham que ficar sob confinamento”, afirma Josephine Barit, 34, compradora de uma pequena loja em Paris que não tinha indicações de que as galinhas pudessem ter sido confinadas.
“Então, não é mais ‘ao ar livre’?” ela conclui. “Suponho que não haja outra escolha por causa da gripe aviária, mas eles poderiam informar-nos disso.”
Acredita-se que permitir que as galinhas passem tempo ao ar livre seja mais humano, dando aos consumidores uma certa tranquilidade ao comprar produtos de criação de animais.
Os veterinários dizem que as aves com acesso ao ar livre são particularmente vulneráveis a serem infectadas com a gripe aviária, oficialmente conhecida como gripe aviária de alta patogenicidade ou HPAI, porque as aves migratórias espalham a doença. As aves comerciais podem adoecer pelo contato com aves selvagens infectadas, suas penas ou fezes.
O Departamento de Agricultura dos EUA recomenda que os agricultores mantenham as aves em ambientes fechados “enquanto o surto de HPAI estiver em evolução”, mas não exigiu confinamento.
O surto nos EUA é o segundo pior da história, com mais de 35 milhões de aves mortas este ano. A França abateu quase 16 milhões de aves em seu pior surto de todos os tempos, enquanto as infecções também atingiram países como Grã-Bretanha, Itália e Espanha.
Os requisitos europeus para confinar frangos e poedeiras deixaram alguns consumidores insatisfeitos, mesmo quando os varejistas postam placas notificando os clientes sobre a mudança.
“No final das contas, você ainda paga o preço dos ovos ‘ar livre’ ou orgânicos, quando na verdade as aves nunca viram o céu”, disse Marc Dossem, 52, um comprador de um grande supermercado em Paris.
Os padrões de marketing da União Europeia e da Grã-Bretanha permitem que as galinhas poedeiras caipiras sejam mantidas sob confinamento por até 16 semanas antes que as empresas produtoras emitam esclarecimentos aos clientes.
No mês passado a Grã-Bretanha determinou que os ovos de galinhas “caipiras” mantidas confinadas sejam rotulados como “ovos de galpão”, mas na sequência permitiu que os avicultores deixem as galinhas sair novamente, autorização que vigora desde 1º de maio.
Na Espanha, as galinhas devem ser mantidas confinadas em áreas especiais de risco e vigilância do país, disse Mar Fernández, chefe espanhol da Organização Interprofissional de Ovos e Derivados. Elas ainda não estão confinadas há mais de 16 semanas, disse ela.
“Há países que não têm mais ovos de galinhas caipiras disponíveis há meses”, disse Fernández.
As autoridades dos EUA não exigem que os produtores de ovos orgânicos atualizem os rótulos quando eventos inesperados, como a gripe aviária, alteram as práticas de produção, disse o departamento de agricultura. Ovos rotulados como “orgânicos” e “ao ar livre” devem vir de galinhas com acesso ao ar livre nos Estados Unidos.