Produtor paranaense ainda transforma todo resíduo seco e líquido da produção do biogás em adubo, que também é vendido. Projeto foi possível por meio de parcerias com outras propriedades.
Em um sítio de 26 hectares em Boa Esperança do Iguaçu, no oeste do Paraná, o agricultor e professor Gilmar de Paula encontrou uma alternativa para aumentar a renda familiar, antes baseada em aviário, soja e milho. Há cerca de quatro anos, ele iniciou o projeto de utilizar resíduos da propriedade para a produção de biogás.
“Antes eu vendia a minha cama ou jogava na terra in natura com valor insignificativo”, contou o agricultor e professor Gilmar de Paula.
Após conversas com outros avicultores e especialistas na área, Gilmar decidiu então utilizar os resíduos de frango e a água coletada da chuva para a produção de energia. Ele percebeu que não teria retorno e, foi neste momento, que a família do agricultor fez parceria com produtores vizinhos e começou a coletar, também, as sobras da produção de suínos e de leite.
“A gente acaba deixando de utilizar a água, que é um recurso cada vez mais escasso e dando um ressignificado para dejeto de suíno que a gente acabou utilizando na planta. Usa e devolve pra natureza de uma forma muito menos agressiva”, ressaltou.
Para potencializar ainda mais a produção de energia na propriedade, como na mistura de resíduos, Gilmar conta com a ajuda dos estudantes Andressa e o Gustavo. Eles cursam engenharia de bioprocessos e biotecnologia na Universidade Tecnológica Federal de Dois Vizinho.
“Os microrganismos que realizam a biodigestão têm um metabolismo que é semelhante a digestão humana, então a gente precisa ter uma dieta variada. A cama de frango em especial tem bastante nitrogênio, bastante amônia e a relação é baixa. Assim misturando esses outros dejetos a gente consegue ajustar as propriedades. E com isso produz mais gás e de melhor qualidade”, explicou Andressa.
Produção de energia
Os resíduos dos frangos, dos suínos e do leite são colocados em um misturador gigante e apenas a parte mais líquida vai para o biodigestor. Depois de produzido na propriedade, parte do biogás fica armazenada em um cilindro e volta para o próprio aviário como energia térmica.
Desta forma, no inverno, a família faz uso do biogás para aquecer os frangos em vez de queimar lenha. A medida gera economia para o agricultor.
“Um aviário eu já não utilizo mais nem lenha, nem cavaco nem palet. Isso dá uma economia perto da lenha, hoje eu não gasto nem 30% do que eu gastava com a lenha antes. É uma uniformidade para o aviário. É economia circular. Eu produzindo a proteína, da proteína eu tenho um dejeto que vou transformar em gás que vai retornar para aquecer a minha proteína lá dentro do aviário”, disse.
A outra parte do biogás produzido movimenta um motor e gera energia elétrica. Por mês, a propriedade tem capacidade pra 52 mil quilowatts, suficiente para abastecer 250 unidades consumidoras.
Esse trabalho de geração de energia, para Gilmar, dá retorno de um faturamento três vezes maior que o registrado no aviário.
Adubo
O projeto na propriedade de Gilmar ainda transforma todo resíduo seco e líquido da produção do biogás em adubo, que é vendido para proprietários de hortas, flores e também nas lavouras da família, na produção de feno e outras pastagens para gado de leite.
Considerando o retorno financeiro com a venda de adubo, o faturamento fica seis vezes maior que o registrado com o aviário.
Para colocar o projeto em prática, o investimento de Gilmar foi financiado por uma cooperativa de crédito que, além do dinheiro, deu assistência técnica e agora compra os créditos da energia produzida.
“Esse produto que sai da propriedade do de Paula acaba gerando uma energia que vai para a rede da Copel, onde é redistribuída por um parceiro nosso que é a Paraná Energia. Então nossas agências compram essa energia e esse valor volta para a conta do cooperado, porque isso nos garante também todo ciclo do crédito. Questão da parcela: hoje basicamente dentro das seis unidades, temos quatro já produzindo energia, e a energia basicamente paga o financiamento”, afirmou o coordenador de projeto e empreendedorismo da Cresol, Gerson Preilipper.
Em todo Paraná, 72 agências de cooperativa de crédito são movidas a energia limpa e ganharam o selo verde pela responsabilidade fiscal, social e ambiental.
Entrar em uma agência sabendo que a energia que movimenta o local foi produzida no sítio da família é motivo de orgulho para o Gilmar.
“Me sinto útil para a sociedade. Saber que a gente estava lá fora a 37ºC, 38ºC, você entra em um conforto na agência… Saber que de certa forma o trabalho nosso realizado lá no campo está transmitindo para as cidades também, ser responsável por economia de água, para não ter que gastar com outras fontes poluidoras para gerar energia é algo que não tem preço”, completou o agricultor.