Procurando justificar as altas que vêm ocorrendo com os alimentos, governos de todo o mundo colocam a culpa na guerra entre Rússia e Ucrânia. Mas, surpreendentemente, o Índice FAO que acompanha a evolução dos preços no setor (FFPI, na sigla em inglês) apresentou queda em abril. E a surpresa aumenta frente à constatação de que a redução foi ocasionada exatamente pelos dois alimentos mais citados ao se avaliar os efeitos danosos da guerra sobre o abastecimento: cereais e óleos vegetais.
O recuo mensal do FFPI em abril foi pequeno, inferior a 1%. Mas interrompe, ainda que temporariamente, uma escalada de preços que começou em meados de 2020 quando, devido à Covid-19, o mundo começou a sentir a queda na produção e na distribuição de alimentos. Desde então (são, quase, 24 meses de altas praticamente contínuas), o FFPI acumulou variação próxima de 75%, índice que agora sofre ligeiro retrocesso.
Quem mais contribuiu para esse retrocesso no mês foram os óleos vegetais: redução de 5,68%, resultado impulsionado – conforme a FAO – pelas baixas mundiais nos preços dos óleos de palma, girassol e soja. Elas neutralizaram as cotações mais elevadas do óleo de colza e a redução só não foi maior devido às restrições de exportação de óleo de palma impostas pela Indonésia, maior exportador mundial do produto.
Já a queda no preço dos cereais não chegou a meio por cento. Foi liderada por uma redução de 3,0% nos preços do milho, visto que “que os suprimentos sazonais das safras em andamento na Argentina e no Brasil ajudaram a aliviar a pressão sobre os mercados”. Os preços internacionais do trigo subiram marginalmente, apenas 0,2%. Mas permanecem elevados devido ao bloqueio de portos na Ucrânia e às dúvidas quanto à próxima safra norte-americana. Assim, o aumento só não foi maior devido, de um lado, à expansão dos embarques por parte da Índia bem como (fato inesperado) da Federação Russa; e, de outro lado, por uma moderada demanda global, reprimida pelos preços elevados.
Em suma, pois, aumentaram em abril o açúcar (3,29%), os laticínios (0,86%) e as carnes (2,23%). Estas voltaram a apresentar novo recorde mas, frente a uma variação anual de 29,81% no FFPI, registram expansão de 16,84%. E enquanto no ano o FFPI já aumentou 18,52%, as carnes se encontram praticamente na metade desse valor, com incremento de 9,81%